O índice IBOVESPA, indicador mais importante da bolsa de valores de São Paulo (a B3), vive momentos turbulentos, sobretudo por causa da crise causada pela COVID-19. Diante do tamanho do impacto gerado pelos desdobramentos da pandemia, o índice já variou mais de 40%, até a mínima no dia 23 de março.
Momentos ruins nas bolsas de valores são comuns e estar preparado para atravessá-los é importante. Por isso, vamos retomar o histórico do IBOVESPA em algumas crises, traçando qual foi o comportamento do índice durante os momentos de dificuldade, e o que foi feito para reverter a situação negativa. Confira!
Crise política de 2016
2016 foi mais um dos anos mais tumultuados da política brasileira recente, o que se refletiu na economia e nos negócios feitos na bolsa, como quase sempre acontece. O principal motivo foi o processo de impeachment da até então presidente Dilma Rousseff e o início do governo do seu sucessor, Michel Temer.
Naquele ano, diante das incertezas geradas pela troca ou não no comando do país, o IBOVESPA sofreu, principalmente nos primeiros meses do ano. Em janeiro, o indicador atingiu seus níveis mais baixos, com cotações inferiores aos 40 mil pontos.
À medida que o processo de impedimento foi andando, o fluxo de negócios na bolsa foi ganhando força com a expectativa das reformas implementadas pela equipe econômica do novo governo.
A principal ferramenta para isso foi a implementação do teto de gasto, por meio de alteração na constituição. Essas mudanças visavam, sobretudo, conter o crescimento da dívida pública, que permitiria a redução dos juros e da inflação. No final desse ano, a relação PIB/dívida pública já era de quase 80%, com trajetória de elevação.
Terminado 2016, o IBOVESPA acabou tendo mais ganhos do que perdas, com valorização de 38% nos 12 meses, o primeiro resultado positivo desde 2012.
Joesley Day
O ciclo de reformas imposto pela agenda do presidente Michel Temer foi interrompido em maio de 2017, no que ficou conhecido pelo mercado como o Joesley Day. No fim do dia 17 daquele mês, foi divulgado um áudio no qual o chefe do executivo tinha conversas de teor comprometedor com o empresário do grupo JBS Joesley Batista.
A notícia caiu com uma bomba e deu origem ao boato de que o presidente renunciaria. Com isso, o pregão da bolsa, no dia seguinte, ficou bastante tumultuado. Assim que o mercado abriu, o índice despencou mais de 10%, o que acionou o circuit breaker,mecanismo que interrompe as negociações por 30 minutos para proteger a bolsa. No final do dia, a perda registrada foi de 8,8%.
A bolsa vinha bem em 2017 e até teve valorização no final do ano, com crescimento de 26%. Contudo, o Joesley Day reduziu o já fraco apoio ao governo Temer, que se viu obrigado a lidar com uma série de denúncias e abortar os planos de reforma da previdência, outra medida vista como essencial para domar a dívida pública ainda em alta no país.
Greve dos caminhoneiros de 2018
Um ano depois do Joesley Day, a movimentação dos caminhoneiros que parou o Brasil por mais de 10 dias entre o final de maio e o começo de junho teve novo reflexo no IBOVESPA e na economia como um todo.
A greve começou oficialmente no dia 21 de maio, uma segunda-feira. As reivindicações dos motoristas eram principalmente sobre o preço do óleo diesel, nas alturas por causa da nova política de preços da Petrobras.
O movimento foi ganhando força ao longo da semana, o que começou a gerar problemas de abastecimento, envolvendo sobretudo alimentos e combustíveis. A demora de uma resposta efetiva do governo também favoreceu o crescimento das manifestações.
No domingo, dia 27, um acordo ainda precário entre as lideranças do governo foi fechado, envolvendo o preço do diesel e a implementação de uma tabela de fretes. Contudo, a situação demorou mais alguns dias para se normalizar.
O dia 28 foi o pior para o IBOVESPA, que fechou aquele pregão com queda de 4,49%. O resultado negativo foi puxado principalmente pela desvalorização das ações da Petrobrás diante da redução do preço do diesel, implementada para contornar a crise.
No final de 2018, quando houve eleições presidenciais, o IBOVESPA ainda teve resultado positivo, com valorização de 15%.
Crise econômica de 2008
A grande crise mundial de 2008 começou no mercado imobiliário norte-americano, graças aos títulos podres vinculados a hipotecas que deixaram de ser pagas. Isso causou um efeito cascata que levou junto uma série de bancos e gerou reflexos sérios na economia do mundo todo.
No IBOVESPA, o pregão foi interrompido 6 vezes entre setembro e outubro por causas das quedas geradas no auge da crise. No final, a turbulência mundial fez com que o volume de perdas na bolsa fosse de 41%.
A crise de 2008 exigiu uma série de medidas contracíclicas por parte do governo, que teve que injetar dinheiro na economia para que a paralisação da atividade econômica não fosse tão sentida. Na época, o espaço para isso era maior, já que a relação PIB/dívida ainda girava em torno dos 60%.
Crise dos tigres asiáticos em 1997
A crise dos tigres asiáticos foi causada pela mudança da política monetária de vários países emergentes da Ásia, o que levou a uma interrupção do crescimento de locais que experimentavam um bom índice de desenvolvimento até então.
Como efeito, a economia brasileira viveu uma intensa fuga de capitais, com investidores levando seu dinheiro para outros mercados. Em outubro de 1997, a bolsa de São Paulo teve que acionar pela primeira vez na história seu circuit breaker depois que o mecanismo foi implementado. No pior dia daquela crise, o índice caiu 8,8%.
A crise que começou na Ásia desequilibrou os indicadores econômicos do Brasil, que viu sua dívida pública saltar de 43% do PIB para quase 57% em um ano. No ano seguinte, foi necessário recorrer a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1999, o real abandonou a política de câmbio fixo e sofreu forte desvalorização.
Entender o comportamento do IBOVESPA nas crises passadas ajuda o investidor a compreender melhor como atuar no mercado de investimentos, que é tão sensível a instabilidades políticas e econômicas.
Dessa forma, fica mais fácil saber como agir diante de novos problemas e vislumbrar que mesmo as piores situações econômicas podem ser contornadas, principalmente no longo prazo.
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