Nesses últimos dias o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, realizou uma apresentação para investidores estrangeiros a respeito da situação econômica no Brasil. Na ocasião, foram debatidos alguns temas, entre eles, o impacto da incerteza fiscal e da pandemia na inflação. A apresentação foi equivalente a um balanço geral do primeiro trimestre de 2021.
Enquanto nosso país se encontra no meio de uma segunda onda, em lockdown e com baixo estímulo econômico, os Estados Unidos e as economias avançadas têm feito massivos investimentos fiscais, além dos já realizados em 2020, sustentando cada vez mais, projeções positivas para o crescimento econômico global.
No Brasil, estamos com dívida pública equivalente à de países ricos, isto quer dizer que, somos um país pobre, porém que gasta dinheiro público como se fosse um país rico.
Paralelo com os EUA
Se tratando da economia americana, o governo deve seguir oferecendo estímulos econômicos, além de um programa desafiador para investimentos em economia verde e infraestrutura. Além de dados econômicos robustos, a taxa de desemprego vem se recuperando em uma velocidade nunca vista e com a expectativa de chegar a níveis pré pandemia no final deste ano.
Inclusive no quesito vacina, o país está no estágio mais avançado na imunização de sua população. Por lá, todos os americanos acima de 18 anos devem estar vacinados até o final deste semestre.
Neste cenário, os preços internacionais das commodities (agrícolas, metálicas, etc) apresentam elevação, pressionando a inflação em diversos países, bem como, a chamada “reprecificação de ativos financeiros” – notadamente as altas de juros futuros.
Riscos do alto endividamento
Para países emergentes como o Brasil, o alto endividamento público acaba impactando negativamente na taxa de câmbio, desvalorizando o real.
Isto porque os grandes investidores brasileiros e estrangeiros acabam retirando recursos do Brasil (compram dólares) e isso ajuda a manter nossa moeda desvalorizada (dólar caro), resultando em mais inflação, já que muitos preços são cotados na moeda americana.
A alta nos preços internacionais das commodities somada à depreciação cambial, vem pressionando a inflação brasileira. O Banco Central mantém a avaliação de que a maior parte deste movimento é temporário e não reflete em questões estruturais.
Quanto à atividade econômica brasileira, a autarquia avaliou como “pouco melhor do que o esperado”, porém projeta uma contração no PIB já neste primeiro semestre dada a segunda onda no país. Por sua vez, a previsão para o segundo semestre segue otimista, fundamentada pelas expectativas positivas em relação a vacinação mais acelerada em maio e junho contra o Covid-19.
Política monetária
Roberto Campos afirmou que a visão em relação ao quadro fiscal doméstico exerce uma influência significativa sobre as decisões de política monetária, com destaque ao debate acerca do Orçamento público de 2021.
Em consonância a este contexto de incertezas fiscais, o Banco Central realçou os sinais positivos emitidos pela aprovação de algumas medidas estruturais, tais como os marcos regulatórios ou até mesmo a autonomia do Bacen. Ademais comentou sobre a solidez do sistema financeiro, bem como o balanço de pagamentos.
Além disso, o presidente da autoridade monetária reiterou que a estratégia de “normalização parcial” da política monetária só será alterada caso enxergue sinais de elevação significativa da inflação e das expectativas para a alta dos preços à frente. Reforçou que, sinalizar uma nova alta na próxima reunião na mesma magnitude seguiu entendimento de que agir rápido implica fazer “menos no final”.
O cenário econômico do BTG prevê um aumento da taxa básica – Selic – dos atuais 2,75% a.a. para 5,50% até o final de 2021 e 6,50% em 2022.
Por fim, Roberto Campos colocou que o risco para mais turbulências é que o cenário fiscal se deteriore, tornando a dívida pública crescente. Neste contexto a taxa de câmbio tende a se depreciar, pressionando novamente a inflação. Por consequência a autarquia abandonaria a estratégia do ajuste parcial, levando a taxa de juros diretamente ao patamar neutro, nível que não há estímulo ou desestímulo da economia.