À medida que foi se espalhando, a pandemia do novo coronavírus não impactou apenas os sistemas de saúde dos países afetados: a economia também foi fortemente atingida. Isso fez com que os governos adotassem medidas para tentar minimizar o problema.
Entre as ações que mais chamaram a atenção está a atuação do Federal Reserve (FED), banco central dos EUA, que reduziu as taxas de juros da economia americana. Com isso, o país chegou ao juro zero.
Para entender como isso aconteceu e quais os impactos dessa decisão, acompanhe este conteúdo.
Qual é a relação entre a pandemia do novo coronavírus e a medida adotada pelos EUA?
O FED anunciou o corte de juros na economia americana em meados de março. A partir disso, o patamar dessa taxa passou a variar entre 0 e 0,25%. Esse corte aconteceu de forma extraordinária, uma fez que o banco central estadunidense já havia atuado para reduzir os juros no começo do mês.
Nessa primeira redução, a taxa havia caído para valores entre 1,0 e 1,25%. Antes desse ciclo de reduções dos juros, a economia no país estava convivendo com taxas que variavam entre 1,5% e 1,75%.
O principal motivo para os cortes foram as consequências econômicas causadas pela crise gerada pela pandemia, que atingiu com força os EUA. As medidas de contenção para diminuir a propagação do vírus exigiram interrupções da produção em diversos setores.
Entenda melhor a situação
De forma muito resumida, os juros expressam os custos para obter dinheiro. Quem contrata um empréstimo, além do dinheiro emprestado, paga ao banco uma taxa de juros pré-determinada, o que remunera o serviço da instituição financeira. Por outro lado, quem investe seu dinheiro, também recebe uma remuneração, que pode ser influenciada pelo patamar dos juros vigentes.
Por isso, os juros são um importante instrumento de política econômica, já que influenciam a quantidade de dinheiro circulando na economia. Dessa forma, é normal que os bancos centrais pelo mundo reduzam os juros quando querem estimular a economia e elevem as taxas quando a inflação começa a apertar.
No Brasil, a taxa básica de juros é a SELIC. Ela é definida por meio do COPOM (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central. Os seus membros se encontram a cada 45 dias e, a partir da análise do cenário econômico, indicam quais serão os juros. Para agosto de 2020, ela foi estipulada em 2,00%, mas pode cair ainda mais, diante da situação de crise.
Quais são os objetivos dessa redução de juros?
Em uma economia com juro zero ou próximo disso, os depósitos e aplicações rendem muito pouco ou mesmo nada. Dessa forma, certos investimentos deixam de ser atrativos. Além disso, emprestar dinheiro fica mais barato.
Com isso, a expectativa é de que as pessoas peguem dinheiro emprestado, em vez de poupar, ou ainda, gastem seus recursos, no lugar de aplicar no mercado financeiro. Fica mais fácil, por exemplo, alguém conseguir capital para financiar um imóvel, um carro ou mesmo abrir um negócio próprio.
Do mesmo modo, ações se tornam mais atrativas que a renda fixa, em que pese o risco maior dessa primeira opção. Essa movimentação tende a evitar uma paralisia ainda maior na atividade econômica, principalmente em um momento em que o desemprego crescerá bastante e a incerteza quanto à retomada é grande.
Quais foram os primeiros sinais observados após essa redução?
Com a pandemia ainda em curso, é difícil dimensionar a efetividade das ações do FED. O mercado encara com ceticismo essas ações, tanto que, nos dias seguintes ao anúncio do juro zero, as bolsas continuaram caindo.
No Brasil, a sinalização dada pelo FED de que a recessão futura será forte pode fazer com que a taxa SELIC caia ainda mais. Assim, os juros reais (ou seja, descontada a inflação no período), também devem se aproximar de zero.
Quais são as projeções dos operadores de mercado frente a esse fato?
Além do corte nas taxas, o banco central estadunidense anunciou um pacote de U$S700 bilhões de dólares para fornecer estímulos para a atividade econômica e garantir liquidez ao mercado. Isso será feito por meio da compra de títulos de dívida pública e títulos vinculados a hipotecas.
Outros bancos centrais pelo mundo também pretendem usar todas as ferramentas que têm para evitar um colapso da economia. Cortes de juros, aumento de gastos, investimentos públicos e incentivos fiscais estão entre as medidas cogitadas.
No mercado, há dúvidas sobre a efetividade das práticas adotadas pelo FED, já que há limitações diante da atual situação. Muitos especialistas defendem que ações visando ao corte de impostos seriam mais efetivas. Todavia, medidas do gênero dependem de movimentações políticas envolvendo o poder executivo e o congresso.
De todo modo, a expectativa é de que os juros sejam mantidos em patamares muito baixos até que a situação volte ao normal. Nem mesmo juros negativos, por mais estranho que isso pareça, estão descartados.
Quais os impactos dos juros negativos na economia?
Juros negativos são raros, mas existem. O principal exemplo desse fenômeno é a economia japonesa, que convive desde o começo dos anos 2000 com taxas abaixo de zero. Em março de 2020, ela era de -0,1%.
Na prática, os juros negativos significam que quem investir em determinadas aplicações precisa pagar para manter o dinheiro aplicado, ao contrário do que acontece quando os juros são positivos. O objetivo é simples: evitar que as pessoas deixem o dinheiro parado e o coloquem em investimentos na capacidade produtiva.
Em um exemplo simples, se a economia brasileira tivesse a mesma taxa da japonesa, quem investisse R$100,00 em títulos públicos, após um ano, teria à disposição R$99,90, sem considerar a inflação, que ampliaria a perda do poder de compra.
O juro zero ou próximo a isso deve perdurar por bastante tempo, assim como a situação econômica instável ao redor do mundo. Muitas mudanças estão acontecendo ao mesmo tempo, o que reforça a necessidade de manter a atenção, principalmente para quem trabalha diretamente com o mercado financeiro.
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